Muito em breve teremos robôs utilizando inteligência artificial para diversas aplicações na área da saúde.
O mundo tem sido impactado por muitos avanços científicos que afetam diretamente os modelos de produção intelectual, industrial e as relações humanas. As tecnologias exponenciais, que evoluem em escala geométrica tem influenciado, ainda mais, exigindo muita rapidez na forma como nos adaptamos às mudanças. Na área de saúde não é diferente. Precisamos conhecer e assimilar todas as inovações distribuindo-as aos sistemas de saúde de maneira que tragam benefícios as pessoas mas não comprometam a sustentabilidade.
Em entrevista exclusiva ao blog da WAY Gestão em Saúde, Miguel Velandia, vice-presidente da Medtronic Brasil, empresa líder mundial tecnologia, produtos e serviços para a saúde, fala sobre o uso da tecnologia na medicina, a reação dos pacientes às inovações tecnológicas e sobre o desafio no aprimoramento dos profissionais para acompanhar as evoluções nessa área.
Em décadas de atuação da Medtronic, como o senhor avalia a utilização da tecnologia na saúde? É possível dizer que as soluções médicas estão e ficarão cada vez mais tecnológicas?
Sem dúvida que o futuro das soluções médicas e o avanço da tecnologia estão caminhando a par e passo. O papel da tecnologia é gerar resultados cada vez melhores para o estado geral de saúde do paciente, trazer conforto e oferecer também ainda mais eficiência nas soluções.
A questão é que permanece o grande desafio em garantir o acesso dos pacientes e preparar os médicos para utilizar essas inovações. Portanto, não há como desenvolver novas tecnologias sem investir para que acesso e qualificação sejam possíveis.
A Medtronic tem feito um investimento considerável em pesquisas, no mundo todo, além de trazer e iniciar pesquisas no Brasil. A empresa investe cerca de R$ 2,5 bilhões em pesquisa por ano, globalmente, correspondendo a 8% do nosso faturamento.
Um exemplo do nosso investimento em pesquisa e tecnologia é a redução do tamanho de nossos dispositivos, como o marcapasso MICRA, o menor do mundo, e nossa linha de DBS – Deep Brain Stimulation (estimulação cerebral profunda), em que conseguimos evoluir a terapia a cada dois anos, em média, redefinindo a experiência do paciente em termos de cuidado e estética.
A Medtronic entende a importância do acesso global a cuidados, terapias e tratamentos de qualidade, por isso, desde a sua fundação procura envolver toda a sua expertise e know-how para reduzir as barreiras de acesso, atuando firmemente para melhorar a gestão de doenças crônicas e fortalecer a infraestrutura disponível ao paciente ao redor do mundo. Como comentei, os profissionais de saúde precisam de atualização constante também, sendo assim, investimos na capacitação tanto dos nossos profissionais quanto dos parceiros médicos, com programas de educação médica e treinamentos regulares, para que possam entregar tecnologias e benefícios da melhor forma aos pacientes. Nosso objetivo também está na constante capacitação dos nossos mais de 84 mil funcionários, bem como nos mais de 9600 cientistas e engenheiros, e mais de 1600 profissionais clínicos com os quais temos contato pelo mundo.
Há alguma resistência por parte dos pacientes com relação a soluções mais inovadoras? Qual a estratégia da empresa relacionada a isso?
A Medtronic não encontra resistência em relação a soluções mais inovadoras, pois, por meio de canais diversos (redes sociais, site, webinars, call center, vídeos-testemunho), busca fornecer informações sobre as patologias e todas as opções de tratamento disponíveis para os pacientes. Também procura realizar um trabalho de aproximação e de informação com as sociedades médicas e as associações de pacientes, além de capacitar todos os profissionais que utilizarão a tecnologia. A Medtronic observa que os pacientes de hoje anseiam por tecnologias que facilitarão seu tratamento e dia a dia, que tragam qualidade de vida e mais segurança para desempenhar suas tarefas. Nossa missão é disponibilizar todas estas inovações tecnológicas globais e, juntamente com as sociedades médicas, universidades e hospitais, educar e conscientizar a comunidade sobre o tratamento mais adequado para cada paciente e doença.
Em algumas entrevistas, a Medtronic ressalta o papel de solucionar o que a medicina convencional não alcança. Pode citar exemplos dessa afirmação?
A Medtronic é uma parceira da medicina convencional e trabalha aliada às opções tradicionais e, quando elas se esgotam, oferece soluções inovadoras. A Medtronic hoje faz parte de um projeto de medicina baseada em valor (Valued Based Healthcare), que tem como objetivo transformar o atual sistema de saúde melhorando os resultados clínicos dos pacientes com melhores práticas médicas, capacitação técnica e compartilhamento de riscos entre a cadeia de saúde. Assim, temos inovado cada vez mais o nosso modelo de negócio da unidade de diabetes, que, além de oferecer dispositivos que se aproximam de um pâncreas artificial, implementou variadas formas de acesso à terapia para que pacientes de todas as classes sociais tenham um melhor gerenciamento de sua condição de saúde. No Brasil, implementamos um projeto-piloto, no formato VBHC, em que os pacientes têm acesso à terapia e educação em diabetes e a Medtronic recebe pelo serviço prestado. Também temos o Programa LATIN, que por meio do uso da telemedicina e da parceria com hospitais e centros de atenção primária, identifica e trata pacientes de infarto no menor tempo possível. Outro destaque é a Neuromodulação Sacral, oferecida pelo sistema InterStim, para o tratamento de incontinência urinária e fecal, em que o paciente chega à nossa tecnologia, depois de passar por uma avaliação multidisciplinar, porque terapias com medicamentos já não apresentam melhora.
Quantos pacientes no Brasil vocês já trataram nos últimos 10 anos e quais os serviços mais procurados pelos brasileiros?
Não temos dados específicos sobre nossa atuação na última década no Brasil. No entanto, em 2017, a tecnologia da Medtronic melhorou a vida de mais de 70 milhões de pessoas em todo o mundo. Na América Latina, neste mesmo período, impactamos cerca de 2 milhões de vidas.
Como a empresa considera a expertise do fator humano em suas inovações tecnológicas, ou seja, é um fator essencial o profissional neste cenário?
Com certeza o fator humano é essencial para o desenvolvimento e implementação de novas tecnologias e tratamentos. A Medtronic investe na capacitação de seus profissionais, para que possam entregar tecnologias e benefícios da melhor forma aos pacientes. Para isso, contamos com um Centro de Inovação Medtronic, na cidade de São Paulo, com simuladores de última geração, que proporcionam uma experiência única em treinamento nos nossos produtos e equipamentos. Nossa equipe de Pesquisa e Desenvolvimento também trabalha junto com diversos médicos desenvolvendo soluções e/ou aprimoramentos aos produtos que comercializamos ou que não existem no mercado, mantendo sempre o foco no paciente. Desenvolvemos estas novas tecnologias apoiados por um amplo board de médicos e de bioengenharia aplicada em todos os nossos centros de excelência globais.
A inteligência artificial é o tema do momento. O que dela a medicina vem se beneficiando e qual a expectativa com relação ao futuro nesta área?
O futuro chega cada vez mais rápido, assim como os benefícios dele para a medicina. Novas aplicações são descobertas a cada dia no diagnóstico (telemedicina), na prevenção, na automação de um procedimento cirúrgico (robôs), nas terapias e na possibilidade de acompanhamento do pós-tratamento a distância. Muito em breve teremos robôs utilizando inteligência artificial para diversas aplicações na área da saúde e isto permitirá aos governos aumentar o acesso da população à saúde de qualidade e reduzir despesas com procedimentos de alta complexidade. Temos, como exemplo, nossas bombas de insulina MiniMed 640G e 670G, que são capazes de interpretar o comportamento do organismo e tomar decisões pelo usuário. Os sistemas integrados de monitorização contínua e a bomba de insulina são vistos como o padrão ouro em tratamento no mundo inteiro, já que diminuem os riscos de complicações que afetam milhões de pessoas que convivem com a condição e que causam um aumento, cada vez maior, de internações hospitalares. Outro exemplo disso é a linha de tratamento para dor crônica, com a tecnologia AdpteStim do Intellis, que permite, por meio de um acelerômetro, medir quanto tempo o paciente esteve em cada posição e emite relatórios, trazendo dados objetivos para melhor avaliação e tratamento.
Qual a sua avaliação sobre o cenário da indústria da tecnologia médica no Brasil e no mundo, hoje?
Em todo o mundo, governos, planos de saúde, hospitais, médicos e outros cuidadores estão lutando para atender às necessidades de saúde, sem aumento dos custos. Na Medtronic, estamos comprometidos em trabalhar para aproveitar o que as tecnologias e serviços têm de melhor, de forma que beneficiem os resultados nas condições de saúde dos pacientes, integrem a prestação de cuidados e apoiem a mudança global para Saúde Baseada em Valor (Value Based Healthcare – VBHC). A Medtronic está avançando para colocar todas as suas tecnologias e pessoal para trabalhar com novos parceiros, de novas maneiras, para alinhar valor e inaugurar uma nova era na área da saúde. Este direcionamento voltado à entrega de valor tem melhorado o relacionamento com clientes, médicos e pacientes por meio da transparência e accountability pelos resultados e custos. Juntos, podemos evoluir o mercado para um cenário mais sustentável e focado no paciente, pois o grande desafio dos dias atuais, em todo o mundo, é transformar para manter a sustentabilidade dos sistemas de saúde.
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